eu tinha 10, 11 anos e fomos para belo horizonte, minha tia morava lá. não era mais tão criança, mas, de qualquer modo, pedi uma boneca de pano na feira da praça da liberdade. uma boneca de pano normal, bonitinha, cabelos de lã castanha, olhos grandes e castanhos de feltro. em algum momento, eu tirei uma das pernas da boneca. não me lembro bem como foi, mas me lembro bem do motivo: para ela me amar. isso, para mim, só se ama quando se necessita. racionalmente, acho isso absurdamente torto, mas talvez ainda pense/sinta assim. aí me faço útil para ser amada e quando percebo que sou útil para alguém, sinto raiva desse alguém porque ele só me ama porque sou útil. libertador mesmo é ser amada sendo inútil.